quinta-feira, abril 23, 2009

Cor

Cor

“As cores são qualificações da luz, derivadas das refrações ou das reflexões dos corpos naturais (como se acredita geralmente), são propriedades originais e inatas que diferem em raios diferentes. Alguns raios tendem a apresentar uma cor vermelha e nenhuma outra, outros uma cor amarela e nenhuma outra, outros uma cor verde e nenhuma outra, e assim por diante. Não há apenas raios próprios e particulares às cores mais dominantes, e sim a todas as suas gradações intermediárias” Newton, Ótica

“As cores são ações e paixões da luz. Nesse sentido, podemos esperar delas alguma indicação sobre a luz. Na verdade, luz e cores se relacionam perfeitamente, embora devamos pensá-las como pertencendo à natureza em seu todo: é ela inteira que assim quer se revelar ao sentido da visão.” Goethe, Doutrina das cores

Desde os primórdios do homem, as cores estão presentes modificando seu cotidiano, dando vida a formas e exalando emoções. É um componente com grande influência no dia a dia de uma pessoa, interferindo nos sentidos, emoções e intelecto.

As cores exercem diferentes efeitos fisiológicos sobre o organismo humano e tendem, assim, a produzir vários juízos e sentimentos. Aparentemente, damos um peso às cores. Na realidade, olhando para cada uma cor damos um valor-peso, mas é somente um peso psicológico.

A cultura agrega significados ao que se vê. Há cores que se tornam sagradas para alguns povos e não para outros. Também há o fato de que as pessoas manipulam as cores só de nomeá-las.

Batizadas de verde-limão, amarelo-ouro e assim por diante, são enquadradas em classificações que facilitam a lembrança, mas que não deixam de ser um tipo de limitação.

O Brasil tem seu repertório cromático, tropical e ensolarado. Essa necessidade de diferenciar o laranja do abóbora é uma característica daqui, que não faz muito sentido para um parisiense.

Cores, além de tudo, alternam significados de acordo com o lugar, a época e a circunstância. O branco é geralmente pensado como uma referência absoluta. Mas os esquimós têm incontáveis nomes para identificá-lo já que percebem facilmente suas variações.

Cor Primária ou Geratriz: é cada uma das três cores indecomponíveis que, misturadas em proporções variáveis, produzem todas as cores do espectro.

Cores Quentes: são o vermelho e o amarelo, e as demais cores em que eles predominem.

Cores Frias: são o azul e o verde, bem como as outras cores predominadas por eles.

Possíveis usos da cor

Unificar. Diferenças formais são compensadas pela cor. A cor unifica os componentes, transformando-os em componentes pertencentes a um grupo. Exemplo: sistema de produtos de uma empresa com determinada imagem visual.

Distinguir. Figuras/formas idênticas são diferenciadas pela aplicação de cores. Exemplo: a bandeira da Itália e da França são idênticas em sua estrutura formal (geometria), porém se diferenciam através da cor.

Camuflar. Assimilar uma figura/forma a um contexto (fundo). Este efeito é o contrário do contraste. Baseia-se na minimização ou diminuição, ou, até eliminação de contrastes.

Chamar atenção. Sinalizar/enfatizar uma forma/figura pelo contraste com o seu contexto.

Estruturar. Enfatizar a estrutura diferenciada de formas/figuras num contexto.

Codificar. Por meio de convenção liga-se determinada cor com um significado específico.

Indicar. Fenômenos físicos são representados pela cor utilizada como signo sintocromático.

Simbolizar. Uso sócio-cultural da cor para representar determinados atributos.

Estilizar. “Exagerar” ou quebrar o uso convencional de cores.

Efeitos da cor:

Efeito físico da cor. Uso da capacidade de absorção/reflexão de superfícies coloridas.

Efeito fisiológico. O organismo humano reage inconscientemente frente às cores; sobretudo em situações experimentais (de laboratório de pesquisa), com efeito sobre frequência da respiração, pressão sanguínea, etc.

No caso em que o campo visual seja ocupado por um estímulo dominante, geram-se inevitavelmente pôs-imagens. Este fenômeno chama-se contraste sucessivo. Exemplo: uso do tom verde-turquesa em salas de cirurgia para neutralizar as pós-imagens provocadas pelo sangue.

Efeito sinestésico. Correlação entre a percepção pertencente a um sentido e a percepção de outro sentido. A cor em si não causa sensações acústicas, táteis, etc.; porém as cores são denominadas como cores quentes, frias, pesadas, gritantes, etc.

Efeito psicológico. Associação entre uma percepção cromática com outras experiências e/ou significados.Exemplo: a cor “rosa” é associada em determinado contexto cultural com “feminina”.

Os estudos de BAMZ

O psicólogo J. Bamz realizou uma pesquisa a respeito da manifestação de um indivíduo a determinada cor:

- Vermelho: Corresponderia ao período de 1 a 10 anos – idade da efervescência e da espontaneidade;

- Laranja: Corresponderia ao período de 10 a 20 anos – idade da imaginação,excitação e aventura.

- Amarelo: Corresponderia ao período de 20 a 30 anos – idade da força,potência, arrogância;

- Verde: Corresponderia ao período de 30 a 40 anos – idade da diminuição do fogo juvenil;

- Azul: Corresponderia ao período de 40 a 50 anos – idade do pensamento e da inteligência;

- Lilás: Corresponderia ao período de 50 a 60 anos – idade do juízo, do misticismo, da lei;

- Roxo: Corresponderia ao período além dos 60 anos – idade do saber, da experiência e da benevolência;

Cada indivíduo reage de diferentes formas a determinada cor, dependendo de sua intensidade, luminosidade e saturação. Entretanto os psicólogos estão de comum acordo quando atribuem certos significados a determinadas cores para quem vive dentro da uma cultura.

Branco:

- Associação material: batismo, casamento, cisne, lírio, primeira comunhão, neve, nuvens em tempo claro, areia clara.

- Associação afetiva: ordem, simplicidade, limpeza, bem, pensamento, juventude, otimismo, piedade, paz, pureza, inocência, dignidade, afirmação, modéstia, deleite, despertar, infância, alma, harmonia, estabilidade.

- Simboliza a luz, e nunca é considerado cor, pois de fato não é. Se para os

orientais é a morte, o fim, o nada, representa para nós ocidentais o nascimento, a força positiva, a alegria; enquanto os povos que atravessam os meses e transpõem os anos sob um céu de chumbo tem outro sentido: o gelo, o inverno e o luto.

- Alarga os espaços, dissipa a opressão dos cômodos acanhados.

Preto:

- Associação material: sujeira, sombra, enterro, noite, carvão, fumaça, condolência, morto, fim, coisas escondidas.

- Associação afetiva: mal, miséria, pessimismo, sordidez, tristeza, desgraça, dor, temor, intriga.

- É expressivo e angustiante ao mesmo tempo. É alegre quando combinado com

certas cores. Às vezes tem conotação de nobreza, seriedade.

- Foi considerada símbolo de sobriedade e sofisticação, a partir da década de 20, quando a estilista Coco Chanel lotou os salões de festa mundo afora com essa cor. Hoje continua sendo uma cor “coringa” na moda.

Cinza:

- Associação material: pó, chuva, ratos, neblina, máquinas, mar sob tempestade.

- Associação afetiva: tédio, tristeza, decadência, velhice, desânimo, seriedade, sabedoria, passado, finura, pena, aborrecimento, carência vital.

- Simboliza a posição intermediária entre a luz e a sombra. Não interfere junto às cores em geral.

Vermelho:

- Associação material: rubi, cereja, guerra, lugar, sinal de parada, perigo, vida, Sol, fogo, chama, sangue, combate, lábios, mulher, ferida, rochas vermelhas, conquista, masculinidade.

- Associações afetivas: dinamismo, força, baixeza, energia, revolta, movimento, barbarismo, coragem, furor, esplendor, intensidade, paixão, vulgaridade, poderio, vigor, glória, calor, violência, dureza, excitação, ira, interdição, emoção, ação, agressividade, alegria, comunicativa, extroversão.

- Vermelho nos vem do latim vermiculos (verme, inseto). Desta se extrai uma substância escarlate, o carmim, e chamamos a cor de carmesim [do árabe : qimezi (vermelho bem vivo ou escarlate).

- Simboliza uma cor de aproximação, de encontro.

- Associada a sorte, felicidade e fama na cultura chinesa, ela acelera a pressão arterial e o ritmo respiratório, convidando à ação e evocando a sensualidade.

- Representa o amor “paixão”.

Laranja (corresponde ao vermelho moderado):

- Associação material: outono, laranja, fogo, pôr do Sol, luz, chama, calor, festa, perigo, aurora, raios solares, robustez.

- Associação afetiva: força, luminosidade, dureza, euforia, energia, alegria, advertência, tentação, prazer, senso de humor.

- Simboliza o flamejar do fogo.

Amarelo:

- Associação material: flores grandes, terra argilosa, palha, luz, topázio, verão, limão, chinês, calor de luz solar.

- Associação afetiva: iluminação, conforto, alerta, gozo, ciúme, orgulho, esperança, idealismo, egoísmo, inveja, ódio, adolescência, espontaneidade, variabilidade, euforia, originalidade, expectativa.

- Simboliza a cor da luz irradiante em todas as direções.

- É a cor dos geminianos, regidos por Mercúrio, o Deus da Comunicação.

- Estimula a cordialidade, o bom humor, a alegria, desperta a inteligência, a criatividade, o que o torna uma boa escolha para espaços de criação.

Verde:

- Associação material: umidade, frescor, diáfano, primavera, bosque, águas claras, folhagem, tapete de jogos, mar, verão, planície, natureza.

- Associação afetiva: adolescência, bem estar, paz, saúde, ideal, abundância, tranqüilidade segurança, natureza, equilíbrio, esperança, serenidade, juventude, suavidade, crença, firmeza, coragem, desejo, descanso, liberalidade, tolerância, ciúme.

- Simboliza a faixa harmoniosa que se interpões entre o céu e o Sol. Cor reservada e de paz repousante. Cor que oferece o desencadeamento de paixões.

- Pontua o equilíbrio entre as cores quentes e as cores frias (originário da mistura do amarelo e azul), entre introversão e extroversão.

- Representa a saúde incondicional.

Azul:

- Associação material: montanhas longínquas, frio, mar, céu, gelo, feminilidade, águas tranqüilas.

- Associação afetiva: espaço, viajem, verdade, sentido, afeto, intelectualidade, paz, advertência, precaução, serenidade, infinito, medição, confiança, amizade, amor, fidelidade, sentimento profundo.

- É a cor do céu sem nuvens. Dá a sensação de movimento para o infinito.

- Nas mais diversas culturas, é a cor da alma, ela alarga a visão e instiga à busca da verdade interior.

Roxo:

- Associação material: noite, janela, igreja, aurora, sonho, mar profundo.

- Associação afetiva: fantasia, mistério, profundidade, eletricidade, dignidade, justiça, egoísmo, grandeza, misticismo, espiritualidade, delicadeza, calma.

Marrom:

- Associação material: terra, águas lamacentas, outono, doença, sensualidade, desconforto.

- Associação afetiva: pesar, melancolia, resistência, vigor.


Brilhantes: Ouro, Prata e Cobre:

- Enquanto reluzem, estas cores atuam beneficamente, sempre ligadas ao que há de mais nobre.

- O Dourado representa luxo, poder e requinte e reflete o que é eterno. Sob

o seu brilho, os sentimentos negativos e destrutivos recriam-se e renascem como sentimentos saudáveis. Que o digam os leoninos, atraídos como ímãs pelo que reluz e aquece como ouro.

- O Cobre é quente, na Mitologia Grega tem doce ligação: trata-se do metal relacionado a Afrodite, a Deusa do Amor. Estimula a atenção dos distraídos, desarma os nervos e conduz ao diálogo e à paz.

- O Prata nos leva à reflexão, é o símbolo da lua. Como ela, o metal não tem luz própria, mas, uma vez polido, como brilha! É o caminho da harmonia.

Mitos

Na visão antropológica de Lévy-Strauss, o mito é a história de um povo, ele é a identidade primeira e mais profunda de uma coletividade que quer se explicar.

Sobre o mito, a filósofa brasileira Marilena Chaui diz que “é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa” que ressurge dentro de uma estrutura onde os conflitos só vão ser resolvidos no final da trama.

Quem acompanha essa história sente-se preso porque quer chegar ao ápice. Ela é o ponto culminante do interesse dos ouvintes.

Mitos são criados a partir da fala. É uma fala escolhida pela história: não poderia de modo algum surgir da natureza das coisas. Mas, naturalmente, não uma fala qualquer, são necessárias condições especiais para que a linguagem se transforme em mito.

Mas o que deve se estabelecer é um sistema de comunicação, é uma mensagem. Eis porque não poderia se um objeto, um conceito ou uma idéia: ele é um modo de significação, uma forma.

O mito surge como uma explicação para uma atitude ou acontecimento numa sociedade. Como o mito da região norte do Brasil, Boto Cor de Rosa, onde um boto se transforma em homem, sai a noite pelos vilarejos, seduz as mulheres e as engravida. Este mito serve para explicar como a donzela foi aparecer grávida.

O mito japonês Momotaro, vem explicar catástrofes naturais, onde um demônio destrói vilas e só é apaziguado com o sacrifício de uma virgem, até que Momotaro o enfrenta com a ajuda de um macaco, um pássaro e um cão.

A importância do mito na semiótica e na comunicação é a bagagem cultural que ele agrega, quais valores da sociedade estão embutidos no mito, e também o estudo por trás da linguagem.